Cronologia da má gestão


No mês mais curto do ano, Esplanada e Planalto se agitam em meio a brigas e demissões

A demissão de ministros no governo Dilma virou rotina. Em fevereiro, dois assessores da presidente deixaram a Esplanada. Primeiro, Mário Negromonte saiu do Ministério das Cidades sem conseguir explicar uma série de irregularidades. Ele se tornou o oitavo titular a cair em pouco mais de um ano de governo Dilma – sete por denúncias de corrupção. No último dia do mês, foi a vez de Luiz Sérgio ser rifado da Pesca. Ele dará lugar ao senador Marcelo Crivella (PRB), terceiro a ocupar o posto na atual gestão. A substituição visa acomodar o PRB no primeiro escalão da administração federal, conforme admitido oficialmente pelo Planalto. Com tantas mudanças, a foto oficial da presidente como os ministros tirada após a posse (ao lado) está desfigurada. 

Ainda em fevereiro, uma série de desmandos comprova a má gestão de Dilma. Problemas no combate às drogas, programas prioritários da petista parados, desvio de recursos em órgãos públicos, entraves na ferrovia Transnordestina, suspeita de caixa dois na Petrobras e de propina na Casa da Moeda, suposto tráfico de influência envolvendo o ministro Gilberto Carvalho, corte bilionário no Orçamento da União e a disputa interna no Banco do Brasil são outros destaques do mês. No mês do Carnaval, o governo petista teve que sambar para tentar explicar tantos problemas. Confira abaixo os principais fatos.

Uso político-partidário na Biblioteca Nacional: num claro exemplo de como o PT loteou a máquina pública, em resenha sobre o livro “A Privataria Tucana”, o site da “Revista de História da Biblioteca Nacional” criticou o PSDB e afirmou que o ex-governador José Serra (PSDB) está “aparentemente morto”. A medida foi amplamente criticada e levou à retirada do texto do site.

Cai oitavo ministro: indicado pelo PP, Mário Negromonte entregou em 2 de fevereiro pedido de demissão do Ministério das Cidades. Ele foi substituído pelo líder do partido na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PB). Negromonte se tornou o oitavo ministro a cair em pouco mais de um ano de governo Dilma – sete por supostas irregularidades.

Desde 2011, a pasta das Cidades é alvo de suspeitas. Em novembro, “O Estado de S. Paulo” denunciou que o ministério fraudou um parecer técnico e recomendou um sistema de transporte mais caro para Cuiabá na Copa do Mundo. A mudança teria a participação do então chefe de gabinete de Negromonte, Cássio Peixoto, demitido em 25 de janeiro.

Em outra denúncia, a “Folha de S.Paulo” mostrou que o ex-ministro e assessores teriam participado de reunião com o dono de uma empresa de informática sobre uma proposta milionária de informatização do órgão. Negromonte ainda teria oferecido um “mensalinho” de R$ 30 mil para deputados do PP em troca de apoio dentro do seu partido.

Novo ministro  da Pesca desconhece setor: em 29 de fevereiro, a Presidência anunciou a troca do ministro da Pesca, Luiz Sérgio, pelo senador Marcelo Crivella (PRB). O pastor é o terceiro a ocupar a pasta no governo Dilma. Em 2011, ela nomeou Ideli Salvatti, então titular da Pesca, para comandar a Secretaria de Relações Institucionais no lugar de Luiz Sérgio, que foi transferido para a vaga deixada pela colega petista. Em surto de sinceridade, novo ministro admite que desconhece o setor que comandará.

Brigas no BB:  reportagens de grandes jornais mostram uma verdadeira guerra entre facções petistas pela presidência do Banco do Brasil e de seu fundo de pensões, a Previ. Em março, o PSDB pretende  ouvir na Câmara explicações de autoridades do BB a respeito desta briga.

Drogas matam oito mil por ano: segundo “Estadão”, o consumo de drogas legais e ilegais mata 8 mil pessoas por ano no Brasil. Levantamento em sistema do Datasus mostra que álcool, fumo, psicotrópicos e cocaína tiraram a vida de 40 mil brasileiros entre os anos de 2006 e 2010. Além disso, o TCU encontrou problemas crônicos no combate ao tráfico, no sistema de prevenção ao uso e no tratamento aos dependentes de álcool e de drogas ilícitas. O relatório retratou o despreparo de policiais que atuam na fronteira. Segundo a auditoria, 55% das comunidades terapêuticas, financiadas pela União, sequer têm licença sanitária.

Alunos sem computador: lançado pelo ex-presidente Lula, o projeto “Um Computador por Aluno (UCA)” foi praticamente abandonado na transição para o governo Dilma. Parte dos 150 mil laptops comprados por R$ 82, 5 milhões está subaproveitada. Há registro de alto índice de laptops quebrados e avariados. Dos 600 mil computadores oferecidos em 2010 a governadores e prefeitos, pouco mais da metade foi adquirida.

Nenhuma creche saiu do papel: a promessa da presidente Dilma de construir 6 mil creches até 2014 ainda não saiu do papel e fez acender a luz amarela no Ministério da Educação (MEC). Em 13 meses, o governo assinou 1.507 convênios com prefeituras de todo o país, mas nenhuma nova unidade entrou em funcionamento.

Desvio milionário no Turismo: cinco meses depois da Operação Voucher, que colocou a cúpula do ministério atrás das grades, a pasta pediu a instauração de 32 tomadas de contas especiais (TCEs) em convênios com entidades não governamentais, diz “O Globo”. O grupo de trabalho que analisou repasses financeiros para 57 ONGs estima que o prejuízo aos cofres públicos possa ter chegado a R$ 56 milhões entre 2008 e 2011.

Problemas repetidos: Dilma cancelou a visita que faria às obras da ferrovia Transnordestina no Ceará. Isso porque o trecho que passa pela cidade de Missão Velha (CE) está abandonado, a exemplo da transposição do rio São Francisco. Segundo o “Estadão”, o palco da festa para receber a presidente já havia sido montado num ponto em que a construção está paralisada. Dos 813 funcionários contratados, só restam 190 no local. O PT aplicou menos dinheiro na Transnordestina no ano passado. Foram investidos R$ 943 milhões, ante R$ 1,55 bilhão em 2010.

Lucro da Petrobras desaba: a Petrobras registrou queda de 52,3% em seu lucro líquido no quarto trimestre de 2011 em relação ao mesmo período do ano anterior: o ganho desabou de R$ 10,602 bilhões para R$ 5,049 bilhões. Foi o pior desempenho desde o primeiro trimestre de 2007.

Para piorar, a CGU aponta que contrato da Petrobras com a ONG Pangea serviu para desviar recursos que teriam sido direcionados ao caixa dois de campanha do PT na Bahia, estado de origem do ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli. A ONG recebeu R$ 7,7 milhões, dos quais R$ 2,2 milhões não tiveram comprovação de sua destinação.

Casa da Moeda teve propina em dinheiro: segundo a “Folha”, relatório de operadora financeira de Londres diz que o ex-presidente da Casa da Moeda recebeu, em dinheiro vivo, US$ 6,15 milhões de “comissão” de fornecedoras da estatal. A entrega dos valores teria sido feita num apartamento de Luiz Felipe Denucci no Rio de Janeiro.

Apesar das diversas suspeitas, Denucci se manteve no cargo mesmo depois do alerta da PF por contar com rede influente de padrinhos, que começa no ex-presidente Lula e encontra respaldo em Dilma, informa o “Estadão”. Para piorar, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, é acusado de ter se omitido em relação aos fatos envolvendo a instituição. Mesmo após ter sido alertado sobre robustos indícios de corrupção, Mantega manteve Denucci no cargo.

Denúncias contra Gilberto Carvalho: conforme “Veja”, a advogada Christiane Araújo de Oliveira revelou ao Ministério Público e à Polícia Federal que mantinha relações íntimas com políticos e figuras-chave da República, como o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. No governo Lula, quando o petista ocupava a chefia de gabinete do presidente, Christiane teria pedido a interferência para nomear Leonardo Bandarra como procurador do Ministério Público do Distrito Federal. O pedido foi atendido. A advogada relata que manteve ligações com o hoje ministro do Supremo Tribunal Federal José Antonio Dias Toffoli quando ele ocupava cargo de advogado-geral da União.

Haddad transportou família em avião oficial: ministro da Educação até janeiro, o pré-candidato a prefeito de São Paulo pelo PT, Fernando Haddad, usou aviões da Força Aérea Brasileira para transportar mulher e filha de Brasília para São Paulo quando ocupava o cargo, diz a “Folha”. Foram 129 deslocamentos em jatos oficiais, entre janeiro de 2010 e dezembro de 2011.

Dilma vai mexer na Comissão de Ética: a abertura de processo pela Comissão de Ética Pública da Presidência contra o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, deverá precipitar a troca de cinco dos sete integrantes do órgão no meio deste ano. Dilma ficou irritada com a decisão do conselho de instaurar inquérito para analisar as denúncias.

Saúde perde R$ 5,4 bilhões: o governo cortou R$ 55 bilhões no Orçamento de 2012, mas incluiu no cálculo R$ 20 bilhões em despesas obrigatórias, que não podem ser cortadas. Assim, a parcela contingenciada é de R$ 35 bilhões, dos quais R$ 25 bilhões são investimento. Saúde e educação não escaparam. A primeira área foi a mais atingida, perdeu R$ 5,47 bilhões.

Falência do Dnit: nomeado vice-chefe do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) após a “faxina” promovida por Dilma, o auditor da CGU Tarcísio Gomes de Freitas se diz à frente de uma autarquia falida, sem condições de executar suas principais funções. Espécie de interventor do órgão, ele afirma que o Dnit não tem como tocar o PAC.

Para levar adiante 1.196 contratos, o grosso do programa, seriam necessários 6.861 funcionários. O Dnit tem 2.695 servidores de carreira. Para piorar, o órgão mantém 1,5 mil servidores terceirizados – metade do total – em situação irregular.

Arrecadação recorde: o governo federal tem batido sucessivos recordes de arrecadação. Em janeiro, o país atingiu a marca de R$ 102,579 bilhões em pagamento de tributos e contribuições federais – um feito histórico. Além disso, a cobrança de Imposto de Renda dobrou em dez anos. O valor passou de R$ 44,9 bilhões para R$ 90,7 bilhões. O problema é que esta dinheirama não tem se revertido em políticas públicas eficientes.

Faxina deixa o segundo escalão de fora: a faxina de Dilma em seu primeiro ano de governo não chegou nem perto das entranhas dos ministérios envolvidos em corrupção, afirma o “Correio Braziliense.” Das 43 cadeiras que compõem o segundo escalão dos sete ministérios que tiveram titulares demitidos sob suspeita, 22 continuam ocupadas pelos mesmos titulares.

Colapso nos aeroportos: em 27 de fevereiro, o Jornal Nacional revelou falhas em terminais como Galeão (RJ) e Guararapes, em Recife. Infiltrações, esteiras paradas e escadas rolantes e elevadores quebrados mostram como os aeroportos do Brasil são “preparados” para receber milhões de turistas que virão assistir à Copa do Mundo de 2014.

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2 março, 2012 Últimas notícias Sem commentários »

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