Palanques ilegítimos, por Rogério Marinho


A intromissão deletéria do Estado na educação moral e política de estudantes causa inúmeras disfuncionalidades, enfraquece as famílias e a própria sociedade. Exemplos desses efeitos no Brasil vão desde a falta de efetividade do ensino até o uso indiscriminado das salas de aula e dos livros didáticos para fins políticos e de cooptação ideológica de estudantes. As funções primordiais do Estado em um sistema de ensino são o da promoção da instrução de conteúdos fundamentais e do desenvolvimento de habilidades profissionais. A educação não pode servir de instrumento de manipulação de crianças e jovens, pois, o ato é imoral e ilegítimo.  

A prática de abandonar o ensino e invadir a educação moral para instrumentalizar estudantes não é fenômeno exclusivamente tupiniquim e da atualidade. Em várias nações, ao longo da história humana, o que se constata é que em períodos políticos autoritários e totalitários são acentuados os mecanismos de domínio da educação política das pessoas. Nesses momentos, o objetivo explícito do Estado é ultrapassar as suas funções de promoção do ensino público instrucional. Ele invade o território da pessoalidade, da intimidade e do âmbito de formação moral familiar, chegando a querer influenciar até o comportamento sexual dos indivíduos. Dessa forma, se impõe à liberdade social. 

O século XX foi pródigo em mostrar exemplos contundentes dessa vontade de poder ao querer conduzir uma espécie de engenharia social por meio das instituições de ensino. O método foi aplicado com maestria na educação fascista, nazista, comunista de Lenin, Stalin e Mao Tsé-Tung, na dinastia Kim da Coréia do Norte e em inúmeras ditaduras sanguinárias africanas. 

Todo regime totalitário transforma a simples instrução escolar em educação moral, comportamental e doutrinária. Em algumas dessas ditaduras citadas, a educação estatal foi e é usada como meio para fomentar culto e adoração a líderes. Nas Américas, o aparelhamento da educação e a intensificação da doutrinação são e foram centrais na manutenção do poder dos irmãos Castro por mais de 50 anos e na combalida Venezuela, onde o chavismo ecoou nos meios de comunicação, nas universidades e nas escolas. 

No Brasil, os petistas esmeraram-se em tonificar um ensino meramente militante e doutrinador ao longo dos seus 13 anos de exercício do poder. Não tiveram pudor em instrumentalizar quase que por completo o ensino em todas as suas etapas educacionais. Há elementos de manipulação aplicados desde o ensino infantil até os graus de pós-graduação. A observação do economista Ludwig von Mises, em seu monumental Ação Humana, encaixa-se perfeitamente em nosso país: “no ensino secundário e mesmo nos cursos preparatórios para a universidade, o ensino de história e economia é, virtualmente, doutrinação. A maior parte dos estudantes certamente não é suficientemente madura para formar uma opinião própria com base no que lhe é transmitido pelos professores”. 

A politização das escolas, o escancaramento para a doutrinação marxista vulgar, as mensagens passadas nos livros didáticos, o controle ideológico em concursos públicos e avaliações escolares fazem parte da ampla hegemonia cultural esquerdista implantada no país. O discurso único também invade outras instituições da cultura além das unidades educacionais. Espalha-se como um vírus que destrói inteligências, vocações e liberdades. Só a pluralidade de ideias pode gerar novos conhecimentos, aprendizado efetivo e preparo intelectual. Cerceá-la é ato antipedagógico. Concordamos com Max Weber quando afirma, em Ciência como Vocação, que “a tarefa do professor é servir aos alunos com o seu conhecimento e experiência e não impor-lhes suas opiniões políticas pessoais”.

Não podemos aceitar que salas de aula se transformem em palanques políticos e partidários ceifando o direito sagrado dos estudantes em aprender e desenvolver habilidades úteis à sua vida e à sociedade. Precisamos de menos demagogia nas escolas e mais conteúdo: mais português, matemática, inglês, física, química. Disso depende o futuro do Brasil.

(*) Rogério Marinho é deputado federal pelo PSDB-RN. Artigo publicado no “Novo Jornal”. (foto: Alexssandro Loyola)

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19 junho, 2017 Artigosblog Sem commentários »

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