Dilma ou Cunha?, por Miguel Haddad


Durante a fase inicial do impeachment de Dilma Rousseff, o PT se apressou em classificar o processo de “golpe”. Como toda artimanha, a tese dos petistas não tinha respaldo na realidade e, por isso, foram obrigados a trocar, a cada fato novo, as versões pelas quais o afastamento da presidente – a mais incompetente da nossa história – seria fruto de uma conspiração.

Numa dessas versões, a trama se devia a Eduardo Cunha. Quantas vezes não ouvimos os petistas dizerem que quem era contra a permanência de Dilma era a favor de Cunha? Não adiantava responder “nem Cunha nem Dilma”, pois o militante, fanatizado, acreditava estar defendendo uma causa ao repetir as mentiras – chamadas de “palavras de ordem” – que os chefes determinavam e, por isso, ficavam totalmente surdos ao que lhe era dito.

Agora, com a aprovação do relatório a favor do afastamento de Cunha, sabe-se que a razão estava com quem dizia nem Cunha nem Dilma”. O Brasil hoje é um país diferente do que era há alguns anos. Contamos com opinião pública atuante, com peso, cuja voz tem poder e se manifesta aos milhões nas ruas e nas redes sociais. Não há conspiração, assim como não há golpe.

É essa opinião pública – atenta e participativa – que determinou as saídas de Dilma e de Eduardo Cunha e que obrigou o presidente Michel Temer a trocar vários ministros em um mês. Essa força fez os prefeitos do PT, ou de partidos da sua linha auxiliar, passarem pelo constrangimento de ter de deixar essas siglas quando ia chegando a eleição, sabendo que, se continuassem em seus partidos, não se elegeriam.

Isso faz com que o PT se reduza a um partido mais próximo dos partidos nanicos, uma vez que a eleição municipal, principalmente a dos vereadores é, segundo estudos feitos, decisiva para a eleição de deputados federais. Sem prefeitos, vereadores e com uma pequena representação na Câmara Federal – para não falar do seu prontuário moral, policial e administrativo – será difícil conseguir relevância.

O novo poder da opinião pública se deve a uma conjunção de fatores: a crença de que vale a pena, construída pelo sucesso da Operação Lava Jato, que colocou atrás das grades figuras que antes pareciam intocáveis; o desastre absoluto da administração petista, que destroçou o Brasil e se tornou ainda mais insuportável em razão das contínuas tentativas do partido de enganar a população negando verdades evidentes, e as chamadas redes sociais, que ampliaram o poder das pessoas.

Aquele Brasil velho, dos foros privilegiados, da corrupção institucionalizada, dos coronéis e oligarcas, da burocracia medieval, do Estado provedor, vai ficar para trás. Depois de Cunha, virão os próximos da lista, sejam estes quem forem, mesmo os chefões.

(*) Miguel Haddad é deputado federal. (foto: Alexssandro Loyola)

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28 junho, 2016 Artigosblog Sem commentários »

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