Relação muito suspeita


Para tucanos, prisão de amigo de Lula reforça necessidade de aprofundar investigação na CPI do BNDES

Deputados do PSDB avaliaram a prisão do pecuarista José Carlos Bumlai como uma demonstração de que as investigações da CPI do BNDES estão no caminho correto. Amigo do ex-presidente Lula, Bumlai prestaria depoimento ao colegiado na tarde desta terça-feira (24) sobre as suspeitas de tráfico de influência e de favorecimento em contratos firmados pelo banco. Ele foi detido na 21ª fase da Operação Lava Jato, batizada de “Passe Livre”, em referência a liberdade de acesso que o empresário tinha ao Palácio do Planalto durante o governo Lula. Os parlamentares dizem que o depoimento de Bumlai será fundamental para as investigações. 

Logo após a prisão, os deputados Alexandre Baldy (GO) e Betinho Gomes (PE) defenderam que a comissão pedisse à Justiça para realizar a oitiva. Sub-relator de Contratos Internos da CPI, Baldy defendeu um acordo com o juiz Sérgio Moro para compartilhamento de informações e/ou depoimento que envolvam as investigações do colegiado. O magistrado comunicou à Presidência da CPI que o depoimento poderá ocorrer na terça-feira (1º). 

TRÁFICO DE INFLUÊNCIA

Quando Lula era presidente da República, Bumlai tinha acesso livre ao gabinete do petista, como mostra mensagem obtida pela revista "Veja".

Quando Lula era presidente da República, Bumlai tinha acesso livre ao gabinete do petista, como mostra mensagem obtida pela revista “Veja”.

“A prisão dele demonstra a importância de aprofundarmos as investigações, pois a cada dia surgem novos indícios de que houve tráfico de influência na obtenção de crédito junto ao BNDES. Ficou comprovado que o empréstimo feito à empresa de Bumlai, na realidade, se destinava ao PT”, destaca Baldy. “Muitos negócios de Bumlai envolvem diretamente a instituição. A CPI tem feito um bom trabalho na análise de contratos e vai somar às atuações de Moro e da Polícia Federal”, completou.

Na avaliação de Betinho, Bumlai se beneficiou de contratos com o BNDES pela amizade que tem com Lula. O tucano lembra que um dos empréstimos foi concedido a uma empresa do qual o pecuarista era sócio e que já havia entrado em processo de falência, o que contraria norma interna do BNDES. Além, disso o deputado por Pernambuco ressalta que um outro financiamento intermediado por ele teria sido, na verdade, para beneficiar o ex-presidente.

“Tudo isso reforça a necessidade de investigá-lo. A CPI está no caminho certo, tanto é que aprovou sua convocação. Naturalmente a nossa disposição é de tentar ouvi-lo de todo jeito, tanto que vamos apresentar um requerimento para que possamos nos deslocar a Curitiba para ouvi-lo e termos mais elementos sobre o papel dele junto ao BNDES e como ele foi favorecido”, avisou Betinho.

LULA EM XEQUE

De acordo com o pedido de prisão expedido pelo juiz Sergio Moro, o esquema do qual Bumlai pode ser peça-chave teria, realmente, beneficiado a campanha pela reeleição do ex-presidente Lula.  Num dos depoimentos de sua delação premiada, o ex-gerente da área internacional Eduardo Musa afirmou que havia uma dívida de R$ 60 milhões da campanha presidencial de 2006, na qual Lula foi reeleito, com o banco Schahin. Para quitá-la o governo utilizaria o contrato de operacionalização da sonda Vitória 10.000.

Um empréstimo de R$ 12 milhões foi tomado por Bumlai junto ao banco Schahin, em outubro de 2004. De acordo com Moro, a garantia oferecida pelo pecuarista foi precária. Em depoimento, o ex-presidente do banco Sandro Tordin, afirmou que os petistas Delúbio Soares e José Dirceu intercederam para que a instituição concedesse o empréstimo a Bumlai.

Segundo Moro, a quitação se deu por meio da contratação do grupo Schahin para operar o navio-sonda Vitória 10.000, de US$ 1,6 bilhão. No papel, o empréstimo de Bumlai foi quitado, sem juros, em 27 de janeiro de 2009, um dia antes da celebração do contrato entre a Petrobras e o grupo Schahin. Salim Schahin, um dos sócios do grupo e também delator, desmente a versão de Bumlai de que teria pago o empréstimo com embriões de gado e afirma que o PT foi o destinatário final do dinheiro.  Auditoria da Petrobras confirmou que houve direcionamento indevido para a contratação da Schahin e que a companhia tinha privilégios como bônus de performance mais altos que os praticados para contratos similares.

Outro delator da Lava Jato, o lobista Fernando Baiano, afirmou ter repassado R$ 2 milhões a Bumlai referente a uma comissão a que o pecuarista teria direito por supostamente pedir a intermediação de Lula em uma negociação para um contrato e que Bumlai afirmou a ele que o dinheiro seria usado para pagar uma dívida imobiliária de uma nora de Lula.

BLINDAGEM ESTRANHA

Na segunda-feira (23) os deputados Miguel Haddad (SP) e Caio Narcio (MG) afirmaram que a tentativa de deputados ligados ao Planalto de impedir a convocação de Bumlai causava estranheza. Para os tucanos, os contratos que envolvem Bumlai aproximam cada vez mais o ex-presidente Lula do complexo esquema de corrupção que tinha tentáculos em órgãos como Petrobras e BNDES.

Ao todo, foram expedidos 25 mandados judiciais, sendo um de prisão preventiva (a de Bumlai), além de 25 mandados de busca e apreensão e seis de condução coercitiva (dois são filhos de Bumlai). A ação é realizada em São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal.

 (Reportagem: Djan Moreno, com informações da Folha de S.Paulo e da Assessoria de Impressa do Deputado Alexandre Baldy)

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24 novembro, 2015 Últimas notícias Sem commentários »

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