Reunião suspensa


Tucanos contestam manobra para adiar leitura de relatório sobre Eduardo Cunha no Conselho de Ética  

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Em duro discurso, Mara Gabrilli questionou Cunha e convocou os deputados a esvaziarem a sessão. Foi o que aconteceu logo em seguida.

Parlamentares do PSDB protestaram duramente contra manobras adotadas nesta quinta-feira visando protelar e impedir o andamento do processo contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Deputados aliados ao peemedebista tentaram derrubar a sessão aberta na manhã desta quinta-feira (19) no Conselho de Ética para leitura do relatório apresentado pelo deputado Fausto Pinato (PRB-SP).  

Um dos representantes do PSDB no Conselho de Ética, o deputado Betinho Gomes (PE) lamentou a orquestração armada por alguns parlamentares para impedir a apuração dos fatos.  “Há aqui um claro movimento de protelação. É possível perceber que alguns não querem que esse Conselho prossiga com seu trabalho”, refutou.

Antes de suspender a reunião, o presidente do Conselho chegou a dizer que o deputado Manoel Júnior (PMDB-PB) estava na comissão apenas para tumultuar e protelar o trabalho. “Vamos ler hoje o relatório”, garantiu pela manhã.

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Minutos depois, Eduardo Cunha afirmou, em plenário, que todas as comissões em funcionamento na Câmara haviam tido suas sessões declaradas encerradas às 10h44 em virtude do início das votações. Uma longa discussão sobre o assunto foi travada e, ao final, o 2º secretário da Mesa Diretora, deputado Felipe Bornier (PSD-RJ), decretou o cancelamento da reunião do Conselho de Ética.

Pouco antes, o deputado Vanderlei Macris (SP) leu questão de ordem respondida em 2007 pela Presidência da Câmara, que assegurava a retomada de sessão em comissões após a Ordem do Dia do plenário. Diante da manutenção da derrubada da reunião do Conselho, o PSDB apresentou recurso à Comissão de Constituição e Justiça contra o cancelamento. Betinho chamou de autoritária a decisão da Mesa.  

Deputados esvaziam o plenário da Câmara após manobra para encerrar reunião do Conselho de Ética

Após o discurso de Mara, deputados deixam o plenário da Câmara e seguem para o Plenário onde o Conselho de Ética havia se reunido de manhã.

O primeiro vice-líder do PSDB, deputado Nilson Leitão (MT), questionou a lisura da sessão em curso no Plenário. Segundo ele, a manutenção da votação causaria ainda mais constrangimento. “Não há condição de se votar nada aqui porque não pode transparecer que tenha havido uma barganha, ainda que não tenha, mas essa é a impressão que se tem: que essa sessão só ocorreu para que a do Conselho não acontecesse. Mais um motivo para puxar a moral e a credibilidade do Congresso para baixo”, completou. 

A discussão se alongou e parlamentares da maioria dos partidos se posicionaram contra a decisão. Em duro discurso, a deputada Mara Gabrilli (SP), 3ª secretária da Mesa, apontou perda de credibilidade de Eduardo Cunha e convocou os parlamentares a abandonarem a sessão. 

ASSISTA A ÍNTEGRA DO DISCURSO DE MARA GABRILLI

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“Como deputada procuro dar exemplo de ética, de superação, de moral. O senhor tinha que fazer o mesmo, dar exemplo. O senhor está perdendo a cada dia a legitimidade de presidir. Convido todos os deputados a saírem dessa sessão. O que o Felipe Bornier fez aqui não se faz. O senhor tem que revogar esse ato e valorizar nosso Conselho de Ética. O senhor está com medo? É isso que está acontecendo? Convido todos os deputados a deixarem essa sessão pela ética, pela moral que temos que ter por esta Casa e pelo povo brasileiro, que nos trouxe aqui. O senhor não consegue mais presidir. Levanta desta cadeira, Eduardo Cunha”, cobrou Mara. 

DECISÃO REVISTA

Após a fala da tucana, muitos parlamentares abandonaram o plenário entoando palavras de ordem como “vergonha” e “Fora” (ASSISTA VÍDEO ABAIXO). A bancada do PSDB e de diversos outros partidos orientaram pela obstrução na votação em curso. Parte dos deputados voltaram para o Conselho de Ética e reabriram a sessão. Em plenário, Cunha anunciou que a decisão de Bornier estava revogada.

“O que o  Brasil assistiu nesta manhã  é incompatível com a ética e o decoro que esse conselho visa assegurar. A fala da deputada Mara é endossada e representa o sentimento da sociedade. Hoje ela falou por todos os brasileiros”, ressaltou o líder da Oposição, deputado Bruno Araújo (PE)

Apesar da retomada da sessão do Conselho, o presidente optou por manter apenas uma discussão informal e marcou para a terça-feira (24) a leitura do relatório de Pinato e da defesa de Cunha. A votação ficou acertada para o dia 1° de dezembro.

POSTURA ANTIDEMOCRÁTICA

Outros parlamentares do PSDB comentaram a postura adotada por Cunha e aliados. Para os tucanos, apesar de ter voltado atrás na decisão de cancelar a reunião do Conselho, as medidas tomadas anteriormente foram completamente contrárias à democracia.

“Estamos discutindo a lisura do funcionamento da Casa. A sessão do plenário não deve ser utilizada como obstrução para que o Conselho de Ética faça de forma correta o julgamento de processos importantes”, reagiu o deputado Daniel Coelho (PE), da tribuna. O deputado Caio Narcio (MG) afirmou que a articulação de manobras protelatórias passaram a impressão de truculência e, aos poucos, faz com que Cunha perca a legitimidade de presidir a Câmara.

O deputado Célio Silveira (GO) considerou lamentável a tentativa de calar o Conselho de Ética. “Acho que isso não faz crescer em nada a Casa e tira totalmente a legitimidade do Conselho”, apontou.  Para Max Filho (ES) toda a orquestração protelatória foi com um tiro no escuro, pois deixa o presidente da Câmara em situação ainda mais complicada. Pela obstrução de diversas bancadas na votação em plenário, o tucano avalia que Cunha tende a perder apoios diante de uma falta da legitimidade.

“Havia sido uma imposição arbitraria, intolerável no Estado Democrático de Direito. É preciso ponderar até quando se quer cometer exageros. Hoje não foi feito nenhum tipo de ponderação, por isso que nós todos saímos do Plenário, por “não aceitar essa situação absurda”, reforçou Pedro Cunha Lima (PB)

(Reportagem: Djan Moreno/ Foto: Gustavo Lima e Alex Ferreira/ Câmara dos Deputados/ Áudio e vídeo: Hélio Ricardo)

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19 novembro, 2015 Últimas notícias Sem commentários »

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