O presente de grego de Lula e Dilma, por Luiz Carlos Hauly


Em 2012, o então desconhecido Alexis Tsipras, líder da Syriza, coligação de esquerda radical da Grécia fundada oito antes, resolveu aconselhar-se com Zeus, já aposentado, visitando-o no Olimpo.

Ouviu dele o que queria: que seu país mandasse às favas o rigor fiscal exigido por seus credores e insuflasse, aumentando os gastos públicos e disseminando o crédito, o consumo popular. A fórmula, garantiu Zeus, era adotada no Olimpo e servia de exemplo de felicidade combinada com crescimento econômico.

Tsipras tornou-se primeiro-ministro em janeiro deste ano, levou a sério o conselho e… a Grécia está à beira do caos depois de ter dado o calote de 1,6 bilhão de euros ao FMI em 30 de junho, caos que, uma vez consumado, causará um abalo sísmico em todo o mundo.

A Grécia vive hoje, guardadas as devidas proporções, situação semelhante à do Brasil de há pouco mais de duas décadas: hiperinflação, contas públicas deterioradas, estagnação econômica, sistema financeiro fragilizado. O Brasil deu a volta por cima com o Plano Real – que completou 21 anos neste 1º de julho -, processo que reorganizou o Estado, estabilizou a moeda e conteve a inflação, criando, assim, o ambiente necessário à retomada da economia. Foi um processo doloroso, tal qual – e, novamente, guardadas as devidas proporções – o dos gregos, com a diferença de que o nosso foi adotado por decisão soberana, o deles imposto pela União Europeia, Banco Central Europeu e FMI. E isso ocorreu há quatro anos, em decorrência de um empréstimo de 240 bilhões de euros, necessário para atenuar os efeitos na já combalida economia grega da crise mundial de 2008.

A rebelião contra as exigências advindas desse empréstimo levou ao poder a Syriza, e seu líder pôde, enfim, adotar as recomendações de Zeus. Plebiscito realizado domingo (5) decidiu que o país não se sujeitará às condições impostas pelos credores. Com esta carta na mão, o primeiro-ministro tentará novo acordo. Dessa negociação depende a continuidade da Grécia na União Europeia.

“No dia 22 de dezembro de 2008 entrei em rede nacional para fazer um pronunciamento à nação. Havia um clima de terror, dizendo que o povo não ia comprar porque estava com medo de perder o emprego. Fiz um pronunciamento dizendo que essa crise no Brasil seria uma marolinha. Mas que, se o povo não fosse às compras, aí sim a crise ia chegar. O que aconteceu? Pela primeira vez na história do Brasil, as classes C, D e E consumiram mais que as classes A e B.”

Essa é a síntese, segundo as próprias palavras do ex-presidente Lula, transcritas pelo Estadão em 5 de fevereiro, do conselho divinal a Tsipras, que não se deu conta de que a obra apresentada como paradigma estava em pleno processo de implosão. Processo desencadeado pela violação dos fundamentos do Real, iniciado por Zeus e aperfeiçoado pela criatura que o sucedeu no Olimpo.

Ao aconselhar-se com Lula, julgando-o Zeus, Tsipras estava na realidade sendo orientado por Dionísio, o deus do vinho, da loucura e das farras. A sucessora do conselheiro olímpico, Dilma Sapiens Rousseff, a quem Tsipras também recorreu, acredita ser Atena, Deméter, Artêmis e Afrodite – todas as deusas da mitologia grega -, mas comporta-se como Perséfone, a rainha da morte que levou a economia do Brasil ao estado comatoso.

Que presente de grego Lula e Dilma deram aos gregos! E, infelizmente, também para nós.

(*) Luiz Carlos Hauly é deputado federal (PSDB-PR). (Foto: Alexssandro Loyola)

 

 

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6 julho, 2015 Artigosblog Sem commentários »

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