A economia brasileira em desalinho, por Arthur Virgílio Bisneto


O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) de 2014, que é a soma de todas as riquezas produzidas no país durante o ano, foi decepcionante: 0,1%, mesmo já considerando a nova metodologia das Contas Nacionais do IBGE que, no geral, elevou os valores da série histórica. Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no último dia 27.

Se olharmos os resultados do PIB nos últimos 15 anos, veremos que os dados divulgados agora só não são piores que os apresentados em 2009. Mais ainda: se observamos os valores dos quatros anos do primeiro governo Dilma, vamos notar que teve a pior média para um mandato desde o começo dos anos 1990, ou seja, a gestão do atual governo foi a mais danosa ao crescimento econômico e muito prejudicial ao país.

Esse desalinhamento da economia brasileira tem causado o aumento sucessivo da desconfiança sobre o futuro próximo do país, sendo tal comportamento notado em toda a sociedade, que vem sentindo os efeitos nefastos dessa perda de controle da economia do país. E as perspectivas para esse e os próximos anos não são nada animadoras para nenhum setor da sociedade.

O sentimento dos analistas de mercado independentes, por exemplo, vem apresentando a cada nova publicação do Boletim Focus do Banco Central (Bacen) uma maior desconfiança quanto aos rumos da economia. Na última sexta-feira (20), o Focus apresentou expectativa de elevação da inflação pela décima segunda vez consecutiva, com perspectiva que a inflação de 2015 possa atingir 8,12%.

E tal estimativa não é para menos. Em 2015, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (Ipca), que é o indicador oficial de medição da inflação, está em 2,5%, considerando os meses de janeiro e fevereiro (o pior resultado desde 2003). No acumulado dos últimos 12 meses, a inflação já atinge 7,7%. Estima-se, com a divulgação do índice de março, que a inflação fique próxima aos 4% no acumulado de 2015.

Vale lembrar que o centro para o índice estabelecido no regime de metas de inflação é de 4,5% ao ano, embora o governo tenha insistido em buscar apenas garantir o teto da meta, que é de 6,5%, e pelo visto corre sério risco de finalizar o ano com percentual superior ao teto. E não é apenas o mercado que tem essa leitura: no Relatório Trimestral de Inflação divulgado, ontem (26), pelo Banco Central, a previsão da instituição é que a inflação feche o ano em 7,9%, com probabilidade em torno de 90%, ainda segundo o Bacen, que o índice extrapole de fato o teto da meta.

Ainda de acordo com o Focus, as estimativas dos analistas de mercado, quanto ao desempenho do PIB, só pioram a cada nova divulgação. De acordo com o último boletim citado, estima-se variação negativa (-0,83%) do PIB para 2015, sendo que a cada nova pesquisa, dentre as últimas doze do boletim, os valores apresentados são menos otimistas. Razões também não faltam para tamanho pessimismo.

Além do resultado divulgado agora pelo IBGE, o ano de 2015 já começa com resultado nada promissor quanto ao desempenho da economia, conforme aponta o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de janeiro, que é utilizado como uma prévia para o PIB. De acordo com o índice, o primeiro mês do ano foi marcado por uma retração na atividade econômica (-0,11%). Para o Banco Central, o PIB deve variar negativamente em 0,5%, conforme divulgado no Relatório de Inflação já citado.

O sentimento dos agentes do setor industrial também não é diferente. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulga mensalmente o Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei), que denota as expectativas do empresariado da indústria quanto às condições atuais e futuras da economia do país. Na escala utilizada na pesquisa, o valor de março ficou em 37,5 pontos, sendo este o menor valor da série histórica, iniciada em jan/99; mais ainda: é a primeira vez que o índice fica abaixo de 40 pontos. A desconfiança do empresariado não poderia ser diferente, pois temos um cenário com taxa elevada de juros (a taxa atual de 12,75% a.a. é a maior da gestão Dilma), a inflação acumulada nos últimos doze meses em quase 8% e a economia está estagnada e com previsão de piora em 2015.

O sentimento do consumidor também não está diferente dos outros agentes aqui mencionados. Igualmente elaborado mensalmente pela CNI, o Índice Nacional de Expectativa do Consumidor (Inec) capta a perspectiva do brasileiro quanto a temas como inflação, emprego, renda pessoal, situação financeira, endividamento e compras de bens de maior valor. O resultado não poderia ser outro: o brasileiro está cada vez menos otimista sobre os temas mencionados. O índice Inec de fevereiro de 2015 foi o menor desde junho de 2001.

Como resultado desse cenário aqui descrito da conjuntura nacional, e olha que nem tratamos das pressões que o governo vem sofrendo por conta dos escândalos rotineiros de denúncias de corrupção, não se poderia esperar sentimento outro da sociedade que não preocupação, estarrecimento e decepção.

O empresário não investe porque não tem confiança quanto ao futuro da economia do país. Junta-se a isso o fato de que está cada vez mais oneroso investir, uma vez que, na tentativa de controlar a inflação, o governo vem aumentando sucessivamente a taxa de juros, encarecendo o crédito. No médio prazo, essa falta de investimento das empresas leva ao desemprego.

A população no geral não consome como antes, injetando menos dinheiro na economia. O medo que se instalou tanto por causa do comportamento da economia até então quanto pelo sacrifício esperado por conta das recentes medidas de ajuste fiscal adotadas pelo governo deixa as pessoas mais receosas e prudentes com o dispêndio de seus recursos cada vez mais comprometidos. A taxa de desemprego, que já vem apresentando aumento, também preocupa a população. Não bastasse tudo isso, a inflação cada vez mais elevada corrói impiedosamente o salário da população, principalmente o das pessoas de camadas mais carentes.

O governo, por ter adotado medidas equivocadas na política econômica, está agora colhendo frutos amargos, acarretando em um desalinhamento impiedoso da economia do país. Infelizmente, os efeitos dos erros cometidos recaem sobre toda a população, mas especialmente prejudica as pessoas mais pobres. Já é notório, por meio dos ajustes anunciados recentemente, que o remédio será forte e vai penalizar o país por um bom tempo. Infelizmente, ainda teremos dias nebulosos antes de voltar ao crescimento. Que essa situação sirva de lição para o governo, para que tome medidas que de fato sejam de interesse do país e não do seu partido.

(*) O deputado federal Arthur Virgílio Bisneto é presidente do PSDB-AM e vice-líder da Minoria na Câmara Federal. (Foto: Alexssandro Loyola)

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30 março, 2015 Artigosblog Sem commentários »

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