Basta a reforma política?, por José Aníbal


Não bastasse o assalto à Petrobras e o relato das operações sujas gestadas pela Secretaria de Comunicação da Presidência, o TCU agora denuncia irregularidades na distribuição de material de campanha de Dilma Rousseff pelos Correios. Como sempre, uma vez acossado por denúncias de corrupção e aparelhamento, o PT retoma o mantra da reforma política – como se ela tivesse o condão de consertar o caráter.

Muita gente se esquece, mas no auge do Mensalão o PT apostou na mesma encenação: “No momento em que enfrenta uma série de denúncias de irregularidades em seu governo e o desgaste de sua base de apoio no Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou a defesa da reforma política como uma forma de tentar esfriar as recentes acusações contra o governo”. (Folha, 09/6/2005).

A reforma política, necessária para aperfeiçoar a democracia brasileira, não evita a infestação do Estado por militantes, não restringe a distribuição de dinheiro público ao rebotalho ideológico, muito menos encerra a retórica do ódio, segundo a qual todo brasileiro não petista é perverso. Sozinha, a reforma não obstrui o uso partidário da máquina pública, não reduz o apetite dos corruptos, nem controla o populismo irresponsável que assola Brasília.

O que as ruas exigem (e Dilma não quer ouvir) é um basta nessa cultura política perniciosa representada pelo PT. À mercê do projeto de poder petista, o Brasil vive um entupimento das relações políticas entre Executivo, Congresso e sociedade. A base aliada é vista como uma manada de aluguel a qual se tange, se monta e se apeia. A sociedade civil, uma criança a ser manipulada e enganada.

Autoritária, incapaz de autocrítica e avessa ao diálogo, a presidente colhe os frutos de sua arrogância. A resposta às manifestações foi sintomática desse estado de coisas. Enquanto o mar de gente pedia um basta na corrupção que assola o governo, os ministros de Dilma tentavam nos convencer de que apenas a reforma política basta – como se dissessem “somos puros, o sistema é que nos força a roubar”. 

Dilma aprendeu com Lula a arte do cinismo. Nessa seara, a conveniência dita a convicção e a culpa é sempre dos outros. Tal malandragem política pode até assegurar mandatos, mas tira a autoridade institucional para liderar os consensos mínimos que o país precisa para não estagnar, retroceder. Neste sentido, a campanha foi um desastre. O país precisa de uma agenda. O PT só consegue prover panfletos. A presidente está zerando sua autoridade política e institucional, como mostram as últimas pesquisas. Estas projeções e o rápido aprofundamento da crise econômica, levam Dilma a viver, precocemente, o ocaso de sua gestão.

Hoje já existem, no Senado e na Câmara, pontos de uma reforma política que certamente representam um avanço quanto ao fim das coligações proporcionais, o voto distrital e a cláusula de barreira. Mas, a recém-ressuscitada proposta de reforma política do governo, depois de 12 anos de imobilismo e obstrução do próprio PT no Congresso, é manobra diversionista. Afinal, esse é o governo que vai conduzir a mãe de todas as reformas? Dando esses exemplos de espírito público? Com essa capacidade de diálogo? Botando a culpa por seus desvios no sistema? Já consigo ouvir o ressoar das panelas.

 (*) José Aníbal é senador suplente pelo PSDB-SP. Foi deputado federal e presidente Nacional do PSDB. Artigo publicado no Blog do Noblat. (foto: Alexssandro Loyola)

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25 março, 2015 Artigosblog Sem commentários »

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