História mal contada


Parlamentares do PSDB rebatem argumentos de empresário para contratar Youssef

Deputados do PSDB contestaram nesta quinta-feira (27) a versão apresentada pelo sócio-proprietário da Sanko-Sider, Márcio Bonilho, à CPI Mista da Petrobras, sobre o pagamento de R$ 37 milhões ao doleiro 15270398434_57b1391350_kAlberto Youssef. Segundo ele, o dinheiro foi repassado legalmente a título de comissão ao doleiro por meio de cessão de crédito à MO Consultoria e à GFD Investimentos – empresas pertencentes a Youssef.

“A gente não pode acreditar nessa história. O fato de ele ter pago ao doleiro por meio de nota fiscal não quer dizer que não configura prática de propina. Até porque, recentemente, um diretor da Galvão Engenharia, em depoimento ao juiz Sérgio Moro, disse que pagou propina com nota fiscal”, afirmou o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA).

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Investigado na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, por suspeita de participar do esquema de lavagem de dinheiro e pagamento de propina chefiado por Youssef, Bonilho foi chamado a comparecer ao colegiado na condição de testemunha. No entanto, ele se recusou a assinar o termo pelo qual se responsabilizaria pela veracidade das informações prestadas. Com isso, foi enquadrado na condição de indiciado.

Em quase três horas de depoimento, o executivo relatou a trajetória da Sanko – que há 18 anos fornece tubos, conexões e flanges (equipamento que une elementos de um sistema de tubulação) e tem 8 mil clientes ativos. Afirmou que conheceu Youssef há quatro anos e o contratou como intermediário para negociar com as maiores empreiteiras do país.

Pelos 12 negócios que o doleiro ajudou a empresa a celebrar, foram pagos R$ 37 milhões. No maior deles, firmado com o consórcio CNCC, liderado pela Camargo Corrêa, a Sanko recebeu R$ 198 milhões. O doleiro embolsou uma comissão correspondente a 10% ou 15% do montante.

Aos parlamentares, o executivo confirmou que fez pagamentos em dinheiro para o vice-presidente da Camargo Corrêa, Eduardo Leite, e para o diretor Paulo Augusto Silva, como parte da comissão de Yousssef. 

Imbassahy contestou especialmente o fato de a empresa ter recorrido “a um criminoso conhecido na praça para fazer negócios com construtoras e com a Petrobras”. “Isso não é razoável. Não convence ninguém”, destacou o líder.

Titular do PSDB na CPI Mista, o deputado Carlos Sampaio (SP) também questionou Bonilho sobre a contratação de Youssef, conhecido nacionalmente na época por práticas ilícitas. “O senhor concorda que sabia que estava se servindo de um criminoso para intermediar negócios. É inquestionável”, declarou.

Diante da colocação, o empresário afirmou que, no primeiro momento, não sabia do passado do doleiro. “Não entrei no Google para checar o nome dele.” Meses depois, um amigo, afirmou Bonilho, o alertou sobre a vida pregressa de Youssef. Ao consultar advogados sobre a situação, o empresário foi orientado a manter os negócios. “Não fiz negócio com Youssef no parlatório da penitenciária. Ele tinha os direitos de ter atividades. Eu até achava que ele estaria se recuperando.”

O deputado Izalci (DF) lembrou que, em uma das conversas interceptadas pela Polícia Federal entre Youssef e Bonilho, o doleiro dá a entender que efetuou pagamentos “vultosos” para o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e outras pessoas envolvidas no esquema. Por isso, Bonilho teria conhecimento do propinoduto, fato que ele recusou durante o depoimento.

Para resolver essa e outras incoerências entre os depoimentos do empresário e do doleiro, Izalci afirmou que apresentará um requerimento ao colegiado pedindo acareação dos dois na CPI mista. “Saberemos o que, de fato, aconteceu. Pelos depoimentos do Youssef, o senhor sabia que recursos eram repassados a Paulo Roberto Costa e outros agentes públicos”, disse. “Eu, particularmente, acho que ele sabia. Quando ele contratou o Youssef, sabia que era alguém que tinha influência nas empreiteiras e na Petrobras.”

Culpados – Durante a oitiva, Imbassahy responsabilizou Lula e Dilma Rousseff pelo escândalo de corrupção que envolve a Petrobras. “Ele (Lula) nomeou um presidente (Sérgio Gabrielli) que praticou uma gestão temerária e permitiu que se instalasse ali corrupção”, disse. “Com a atual presidente Dilma como ministra de Minas e Energia e presidente do Conselho de Administração autorizando a compra e venda de ativos, vendo tudo se passar de maneira complacente”, acrescentou.

Imbassahy criticou ainda a inércia da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) diante das descobertas sobre o milionário esquema criminoso montado na estatal. “Não agiu com zelo e competência para investigar os balanços e auditar as auditorias.”

A CPI Mista deve reunir-se novamente na próxima terça-feira (02/12), a partir das 14h30, para acareação entre Costa e o ex-diretor Internacional da Petrobras Nestor Cerveró.

(Reportagem: Luciana Bezerra/ Foto: Alexssandro Loyola/ Áudio: Hélio Ricardo)

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27 novembro, 2014 Últimas notícias Sem commentários »

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