A qualidade das instituições e o golpe na LDO, por Marcus Pestana


Seria cômico se não fosse trágico. A reunião da Comissão de Orçamento, na noite de 18 último, ficará marcada como uma triste página na história do Congresso Nacional. O secretário da Mesa pulando no pescoço do relator – parecia gol de Neymar – em comemoração a uma vitória de Pirro da base governista, num momento em que o regimento era rasgado, o Congresso, desmoralizado, e a Lei de Responsabilidade Fiscal, jogada no lixo.

 O trator do governo Dilma resolveu atropelar as oposições e as normas, mas o tiro saiu pela culatra. Depois de três horas de debate sobre as atas, em cinco minutos elas foram votadas, e o próprio Projeto de Lei 36/2014-CN, sem discussão de mérito e sem respeito às regras regimentais.

 O PLN 36 prevê a diminuição da meta de superávit primário de 2014 fixada pela Lei de Diretrizes Orçamentárias/2014 (LDO), votada em agosto de 2013. Esse ajuste absurdo e retroativo revela o descontrole sobre as contas públicas do governo Dilma, referenda a irresponsabilidade fiscal e desmente o discurso oficial de campanha, no qual a candidata Dilma dizia que estava tudo bem. Mais um estelionato.

 As oposições resistiram bravamente e, diante do golpe sofrido, se preparam para acionar o STF, pedindo a anulação da reunião. Não se trata de um confronto, mas sim da defesa das instituições democráticas e republicanas.

 A LDO dá os parâmetros para o Orçamento do ano seguinte. Havia uma meta legal, e Dilma a descumpriu. E agora quer usar o Congresso para anistiar sua irresponsabilidade fiscal. A receita do governo federal cresceu 6,9% de janeiro a setembro. O dever de casa de Dilma era controlar as despesas, combater o superfaturamento de obras e os desperdícios.

Daron Acemoglu e James Robinson, em seu “Por que as Nações Fracassam”, demonstram que a prosperidade ou a pobreza de um país é determinada pela qualidade das suas instituições. O Congresso Nacional é uma instituição central na democracia. O Parlamento nasceu nas democracias modernas ancorado em duas leis maiores: a Constituição e o Orçamento, que punham fim ao poder absoluto do rei.

 A mudança retroativa da LDO desmoraliza de uma só vez o Congresso, o Orçamento, a Constituição, a Lei de Responsabilidade Fiscal e a própria democracia. O que equivale a não cuidar da febre e adotar como terapia a quebra do termômetro; ou consolar um marinheiro perdido no oceano dizendo-lhe que não se preocupe, pois a bússola será quebrada.

A aprovação do PLN 36/2014 vai minar ainda mais a já combalida credibilidade da política econômica do governo. Uma política fiscal saudável tem a ver com inflação e crescimento. Estamos esculhambando um conceito clássico universal que é o de superávit primário.

As oposições derrubaram a sessão do dia seguinte com habilidade e determinação. A questão se repõe nesta semana. O Congresso Nacional vai dizer à sociedade brasileira se vale pouco ou quase nada, ou se é uma instituição de qualidade a serviço dos interesses nacionais.

(*) Marcus Pestana é deputado federal pelo PSDB-MG. Artigo publicado no jornal “O Tempo” em 24 de novembro de 2014. (foto: Alexssandro Loyola)

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24 novembro, 2014 Artigosblog 2 Commentários »

2 respostas para “A qualidade das instituições e o golpe na LDO, por Marcus Pestana”

  1. MILTON JARDIM disse:

    Senhores, deputado e senadores, que esta acontecendo hoje com Petrobras, se não fosse os deputados e senadores da base aliada,IMPEDINDO no meio do ano de 2014, uma solicitação pela oposição uma CPI da PETROBRAS.
    O Governo Federal, já sabia do ROMBO E DESVIO DA PETROBRAS.
    SENHORES, Deputados e Senadores, tem muito mais desvio, solicite mais CPI dos CORREIOS, ELETROBRAS,ANAC E DO IBAMA, PARA SABERMOS COMO ESTA ACONTECENDO TANTO DESMATAMENTO DA NOSSA AMAZÔNIA QUE PARECE NÃO SER MAIS DOS BRASILEIROS COMO A PETROBRAS.
    SOU OPOSIÇÃO E SEREI SEMPRE ENQUANTO TIVER O PT NO GOVERNO FEDERAL.

  2. Lena disse:

    O governo irá economizar e usar bem o dinheiro? Sugestão: comecem cortando o dinheiro das ONGs, os DINHEIROS distribuidos aos sindicatos, MST e outros que nada produzem e só consomem.

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