Refinaria da corrupção


Ex-diretor coloca envolvidos no caso Pasadena em maus lençóis ao admitir propina, diz Macris

 O primeiro vice-líder do PSDB na Câmara, Vanderlei Macris (SP), disse nesta sexta-feira (19) que o pagamento de propina ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa aniquila a 7171663298_7afc33902b_zversão governista de que a milionária operação de compra da refinaria de Pasadena (EUA) foi resultado de equívocos técnicos. A revelação atesta que as suspeitas da oposição de superfaturamento, malversação de recursos e corrupção no episódio eram mais do que justificadas.

 Segundo reportagem veiculada na quinta-feira (18) pelo “Jornal Nacional”, da Rede Globo, o ex-diretor afirmou ter embolsado R$ 1,5 milhão com o negócio durante um dos depoimentos que prestou a investigadores da Operação Lava Jato, da Polícia Federal. Para Macris, os outros envolvidos no negócio terão muito a esclarecer após a revelação.

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 “O próprio agente da corrupção declara ter ficado com R$ 1,5 milhão dos recursos do contrato de Pasadena. Imagine a parte dos demais que participaram desse grande assalto ao patrimônio nacional!”, destacou o tucano. “Se deu o próprio pescoço para colocar a corda, imagine se não está dando também o nome dos demais.”

 ESQUEMA MILIONÁRIO – Costa foi preso em março deste ano pela Polícia Federal sob acusação de participar de um esquema de evasão de divisas e lavagem de dinheiro comandado pelo doleiro Alberto Youssef que teria movimentado R$ 10 bilhões. Chegou a ser solto em maio por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), mas voltou à carceragem da PF em 11 de junho. No entendimento da Justiça, ele poderia fugir, já que mantinha ocultos US$ 23 milhões em contas na Suíça.

No fim de agosto, ele assinou acordo de delação premiada e, desde então, tem detalhado o grandioso esquema de pagamento de propina e apontado os beneficiários dele, como governadores, deputados, senadores e ministros de Estado. Além de assumir que recebeu propina no caso Pasadena, Costa disse a investigadores, revelou o jornal “O Globo” desta sexta, que as empresas contratadas pela estatal pagavam 3% de propina. O percentual era proveniente do lucro delas e não sobre o valor global dos contratos. Costa afirmou também que o lucro das empresas varia entre 18% e 20% em cada contrato.

 Para Macris, é fundamental a divulgação pública dos depoimentos do ex-diretor. “Temo muito não haver tempo para que a sociedade tome conhecimento de tamanho assalto ao patrimônio da Petrobras, como foi feito e declarado por esse diretor, que era da confiança da presidente Dilma, do ex-presidente Lula e do PT”, afirmou o parlamentar.

De acordo com o tucano, esse mais recente escândalo petista é “muito pior que o mensalão”. Ele defendeu ainda a ampla investigação dos malfeitos realizados na companhia e a condenação de todos os envolvidos neles. “As providências têm que ser tomadas para que esse pessoal que está acabando com o patrimônio da Petrobras e com o Brasil seja colocado na cadeia.”

O “BOM NEGÓCIO” DEU PREJUÍZO – Localizada num dos maiores centros de refino e distribuição de petróleo do mundo, o estado norte-americano do Texas, a refinaria foi comprada em janeiro de 2005 pela belga Astra Oil por módicos US$ 42 milhões. Quase um ano depois, a Petrobras adquiriu 50% da unidade ao custo de US$ 365 milhões.

Logo após a celebração da sociedade, as partes começaram a se desentender sobre a administração de Pasadena e partiram para um litígio. Depois de longa disputa judicial, a companhia brasileira teve que desembolsar em 2012 um pouco mais de US$ 820 milhões pela segunda parte da refinaria. Estima-se que a Petrobras tenha gasto quase US$ 2 bilhões com a unidade, já que teve que arcar também com despesas para manter o refino do petróleo.

Assim que a escandalosa operação veio a público, no primeiro trimestre deste ano, a presidente Dilma Rousseff, que presidia o Conselho de Administração da estatal na época da aquisição da primeira metade de Pasadena, tentou justificar o negócio. Disse que foi favorável à compra porque se baseou em um resumo “técnica e juridicamente falho”. Segundo ela, o documento omitia qualquer referência às cláusulas “Marlim” e de “Put Option” que integravam o contrato.

A primeira garantia o pagamento de um dividendo mínimo a uma das partes que integravam a sociedade, ainda que fosse registrado prejuízo. A estatal brasileira deveria pagar 6,9% de lucro para a Astra Oil. A “Put Option” obrigava a Petrobras a comprar a parte da refinaria pertencente à empresa belga caso houvesse quebra no contrato da sociedade.

A versão foi rapidamente desmentida pelo ex-presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, e pelo ex-diretor da Área Internacional Nestor Cerveró. Ambos disseram considerar Pasadena um “bom negócio”.

No fim de julho, o TCU comprovou que a operação causou prejuízos de quase US$ 800 milhões ao patrimônio da Petrobras. Para que a estatal pudesse recuperar o montante, a instituição tornou indisponíveis os bens de membros da diretoria executiva que aprovaram a ata de compra da refinaria. Entre eles Gabrielli, Cerveró, Almir Barbassa, Paulo Roberto Costa, Guilherme Estrella, Renato Duque e Luís Carlos Moreira da Silva.

(Reportagem: Luciana Bezerra/ Foto: Alexssandro Loyola/ Áudio: Kim Maia)

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19 setembro, 2014 Últimas notícias Sem commentários »

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